POETA
Minha cabeça é pedinte
Por presenças e ares,
Cheiros e flores, ritmos e febres.
Maços de cartas, jogos de búzios, telas,
Confissões, purgatório: tudo
Palavras que não escrevo
Enquanto aguardo sonhos, nudezes,
Ondas gigantes, ações revolucionárias.
A poesia que espero.
O poeta que fuma e
A abstinência que lhe dói.
A poesia que acho depois de tragos
Ri de mim e seca logo.
Não nado, pelo contrário, me mal trato,
Descavo, arrumo de novo os armários,
Falo da movimentação dos alienados,
Considero-me desanuviado; coitado.
Que porra é ser poeta, que é
Ter essas empolgações humanas
No mundo das respostas prontas,
Composições de fios e nexos,
Conjunto de peças ao leitor
Ouvinte de corpo angustiado?
O poeta que digita a vida,
Bicho que troca e acentua
Conforme as graças da coisa,
As regras literárias,
As formas cultivadas,
A alienação poética.
O poeta que pinta,
Que tem graça e lógica espertas,
Gênio tropeçado pela mãe
Inteligente ou pela educação,
Canta para quem???
A poesia que nego ter,
Que tento só ser,
Um dia ver.
A poesia que me espera.
Poesia e poder,
Segredos contados
Em versos misteriosos
Que despertam algo.
O poeta bom se traz
Algo como Drummond,
Waly, Cecília, Rumi.
Poesia, se liberta.
A poesia e o trabalho
A rosa e o povo
A vida e o sonho
O poeta e o espelho
O escritor e o tiroteio.
A poesia que toca
O poeta que ouve
A poesia que pinga
O poeta que molha.
Poeta que canta
Poesia que encanta,
Quero ser poeta
Da poesia
Que arrebenta.
(Guebo)
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